É inverno, acordo em uma manhã fria e cinzenta. Olho ao meu redor, ainda sem enxergar nitidamente, e não sinto a tua companhia, não mais. A unica coisa que eu consigo sentir é o vento gelado que toca meu rosto. Levanto-me da cama, cambaleando a procura de meus chinelos, e corro pro banheiro para aliviar a bexiga e executar os deveres matinais. A água gelada me desperta ao tocar meu rosto.
Na cozinha, procuro por café e volto correndo para o quarto para me cobrir com o cobertor ainda quente na cama.
Começo a pensar em como foi o meu outono, e de repente lembro-me de você.
Era final do verão quando eu a vi pela primeira vez, e lá estava você, linda, perdida em um lugar na qual você não tinha nem idéia de como funcionava. Eu, com pose de 'bad-boy de quinta categoria', estava encostado no carro, fumando um cigarro. Passei os meus olhos pelo seu corpo, que nem era lá muito atraente, mas me chamava a atenção e congelei por alguns segundos quando percebi que você estava vindo em minha direção. Junto de você estava uma conhecida minha, que lhe arrastava pelo braço, dizendo: "Vamos ali, conhecer uns amigos meus!". Você sem saber o que dizer apenas sorriu e seguiu em frente. Eu, estava com um amigo, que estava a passar férias em minha casa. Fizemos qualquer comentário e afirmamos que você parecia ser, sem dúvida uma pessoa interessante.
Fomos apresentados um ao outro e ao chegar, você tímida, disse um simples oi, seguido de um engraçado 'Tudo bem?'. Ofereci carona, e daí entramos todos no carro. Meu amigo, mais 'atirado', ficou a conversar com você enquanto eu dirigia rumo a sua casa e ria das piadas que ele soltava, tentando impressionar a todos.
Eu, por incrível que pareça, fiquei tímido diante da situação. E sim, claro... Você não falava absolutamente nada em português, alias, falava 'Oi, tudo bem? Obrigado!'.
Aos poucos comecei a conversar com você, com medo de estar falando milhões de asneiras, e do meu inglês não ser bom o suficiente para o seu entendimento.
Lembro-me que te apresentei as notas do nosso dinheiro, e te explicamos sobre palavrões...
Foi um dos dias mais importantes da minha vida. Passar a tarde com você, foi no mínimo maravilhoso. Estava ali, diante de mim, uma menina que reunia tudo aquilo que eu procurava. Mas isso eu só iria descobrir mais tarde.
Nos conhecemos melhor, e a cada dia eu me aproximava mais de você.
Eu me lembro de um dia em que eu fiquei como uma criança quando ganha seu primeiro brinquedo. Neste dia, estava eu e você, era fim de tarde, e eu disse que estava afim de você, que não sabia como, mas me sentia como um menino perto de você e queria tentar te fazer feliz. Você sorriu e colocou a mão em minha perna. Nossa, nessa hora eu congelei, do dedão do pé até o cabelo... Um simples gesto que me congelou. Mas eu vi em seus olhos que a resposta era sim.
Na noite deste mesmo dia seria nosso primeiro beijo. E que beijo!
Deste beijo, começamos um perturbado relacionamento. Eram todos contra nós. Tive que te conquistar e conquistar a sua família. Me senti em um romance Shakesperiano. Finalmente consegui mostrar quem sou eu de verdade para as pessoas que me julgavam e com isso começamos a namorar.
Foi lindo o nosso namoro, enquanto durou, foi forte. Você me ensinou a te amar. Tudo era bom ao seu lado, até mesmo me estressar por você me fazia bem. Na cama éramos intensos e românticos, nós vivemos intensamente, sempre um pelo outro. Eu pelo menos, fiz minha parte. Existem lugares, cheiros, sabores, que aprendi a sentir e viver com você, e sei que sem você estes mesmos lugares nunca serão os mesmos.
Risadas, piadas...
Seu sarcasmo era a pitada final de sua personalidade, agindo perfeita e secretamente como um segredo de uma grande receita culinária. Compartilhávamos dos sonhos mais insanos, mais impossíveis. Era mágico. Aprendi muito com você e pensava que você nunca iria sair da minha vida.
Daí você se foi.
Prometemos um ao outro que não iria acabar. Não iria acabar pela distancia. O que sentíamos era forte demais para terminar por causa de distancia. Eu, morando no interior da Bahia, e você, voltando para a sua terra natal. Juntos em um momento triste de despedida, prometemos nos casar e construir uma linda família.
Prometemos.
Um ano se passou, e nos falávamos, sempre que podíamos. Então era chegada a hora da promessa.
Até que um belo dia, descobri que você me estava me traindo. Não com sexo, ou prazeres carnais, até mesmo porque, se fosse por isso, eu entenderia como desejo da carne, e, tentaria 'engolir', pois não estava perto de você para lhe satisfazer. Mas foi muito pior que isso. Você mantinha relações/contato com um ex seu, lá do Canadá, tão enganado quanto eu. Nos e-mails e telefonemas de vocês dois, você o embriagava com seu amor, suas palavras meigas e sua voz doce, fazendo dele tão bobo quanto eu. Mas foda-se, na minha cabeça ele era o outro. Senti raiva dele, mas nada se comparava ao nojo tomava conta de mim, ao imaginar você dizendo para ele as mesmas coisas que me dizia.
"Sua PUTA!", pensei, sem hesitar.
Uma dor de cabeça imensa, tontura e enjôo tomaram conta de mim quase que instantaneamente, me fazendo passar mal. Logo na seqüencia, você entrou no msn, quase que adivinhando que eu estava aqui.
Em um ataque de loucura, invadi seu e-mail e copiei as mensagens escritas para ele, com o mesmo conteúdo das minhas.
Colei milhões de vezes os textos na janelinha do msn, em um ataque de insanidade. Você, sem saber como lutar contra o óbvio apenas disse que já sabia, que não tinha o que me dizer.
Fechei a janela do msn, e junto com a janelinha, te bloqueei do msn e do orkut, tentando assim te banir da minha vida.
Doeu, doeu muito, muito mesmo. Acredito nunca ter sentido algo tão forte como o desespero que me batia só de pensar que todo aquele castelo que eu havia construído para nós, todos os planos que eu havia feito, todas as maluquices que eu já tinha pensado para as nossas vidas, tudo, estava indo por água abaixo. Eu acreditava em nós, de verdade. Mesmo minha mãe, irmão e irmãs dizendo que era loucura, que era um conto de fadas, que eu estava velho para acreditar nisso, eu acreditava. Houve até uma oportunidade, que minha mãe me deu a grana necessária pra ela vir, largar tudo lá e vir casar comigo. Ela negou e perdeu a chance. Dizendo que viria algum dia.
Como seria se eu não invadisse teu e-mail?
Como você iria prolongar essa mentira?
Nunca saberei estas respostas. Nem as quero saber. Vivo um mundo, hoje, sem tua presença, e elimino tudo aquilo que me faz lembrar você.
Aprendi a me tornar uma pessoa mais fria, graças a você.
Aprendi que amar sozinho não é nada, graças a você.
Aprendi a viver, hoje, com olhos de águia, graças a você.
Hoje, não dói mais. Pelo menos não agora. Espero que esta ferida nunca se abra, nunca.
Espero, como em um ultimo suspiro, que você seja muito feliz, você merece, e eu mais do que ninguém desejo te ver feliz.
Você não me domina mais.